quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Telescópios

 

Telescópios

 

Sob o céu da minha boca

palavras perseguem pensamentos aos meteoros

enquanto sobrevivo a mim mesmo.

Miro o rastro mais humilde, mas jamais cadente,

que como lava de vulcão, magma, seiva

risca o denso escuro azul e diz:

as estrelas são por dentro!

 

O sol em respostas de outono

nas folhas que tingem a estrada espessa de ferrugem

vai de encontro a outras primaveras

onde abelhas e flores e umidade se perguntam.

 

Árvores de mil olhos enxergando satélites

e corpos celestes brilhando há tanto tempo!

 

Rútilas, elas também olham para dentro da terra e de nós mesmos

adivinhando em resinas cítricas

a qualidade e direção das galáxias livres

circundando mundos e mandalas

através de muitas vidas e apesar de tantos corpos,

rosário contínuo emudecendo corredores...


Tudo numa única nota que ressoa deuses transparentes

coexistindo num mesmo universo em pináculos

desta ilha que simplesmente respira

o som de uma mesma constelação

luzindo dentro, microscopicamente,

ampliada em magnitudes e vácuo,

voz de floresta em diversos sentidos.


É assim que Deus reverbera.

 

                                                                  Corfu 03/08/25

 


domingo, 6 de julho de 2025

Plêiades

 

Plêiades

 

Translúcida voz que vem dos veios

onde meus verbos refletem versos e rimas

de perguntas sendo as próprias respostas

em reticências e pontes ligando dois amanheceres.

 

A criação, que almeja reflexos

a exemplo de imagem e semelhança,

busca no barro a divindade respirada

e no lago, a placidez do céu impressa.

 

Assim, o mar reflete o alto

para os argonautas de régua e compasso

e o mastro como obelisco rege o firmamento:

rito de incineração e passagem do humano para o mito.

 

Mísseis não podem apagar estrelas...

 

Enquanto sereias induzirem ao naufrágio

eles atravessarão a noite na constância de seus remos,

surdos à ilusão silenciosa do abismo,

heróis confrontando enigmas apenas pelo suor de sua lida.

 

Essa mensagem se auto apagará no prazo de validade,

mas a saga que ungiu seu tempero de vida entre as ondas,

permanecerá no sal do tempo,

diluída entre as estrelas e os deuses sempre alertas,

entrevista num dorso adamascado de breu e oráculos.

 

As constelações marcarão rota e hora

na aurora das canções imaculadas que eles trarão,

frescas e tenras como no primeiro dia do Gênesis

quando um gosto de Deus andando sobre as águas

permeava tudo, esperando as garatujas, borrões e andaimes

de ninguém menos

que Michelangelo Buonarroti

cumprindo tudo à risca, devolvendo horizontes.