segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Vórtex

 


Vórtex


Réus inocentes de um mesmo sudário

que o emblema do tempo não absolve nem prescreve,

todo silêncio é uma cruz que não conhece gritos.


Máscaras passam

ocultando cicatrizes do que um dia foram risos

condenados agora à burca de uma hecatombe estática

que ninguém pôde prever em sortilégios ou malefícios.


E até que o mosto dessa eucaristia seja decantado

o vinagre do mundo se acreditará a própria uva.


Resta-nos esperar que um mar enfim se abra

em passagem de redenção por entre conchas e areia

revelando a travessia em chão de estrelas

pisando um vinho que ninguém jamais provou.


Enquanto isso, nas patas dos demônios tudo vira capacho

e Deus é reduzido a uma blasfêmia!


Mas aqui...

Os ciprestes continuam apontando obeliscos

para a única resposta possível: O Alto.


Então a sede de redenção que engole a seco seu perfume

canta toda a aridez por fora com o oceano por dentro

e seu silêncio é uma cruz inevitável atravessada na garganta

concebendo um tsunami sem parâmetros nem fronteiras.