Vórtex
Réus inocentes de um mesmo sudário
que o emblema do tempo não absolve nem prescreve,
todo silêncio é uma cruz que não conhece gritos.
Máscaras passam
ocultando cicatrizes do que um dia foram risos
condenados agora à burca de uma hecatombe estática
que ninguém pôde prever em sortilégios ou malefícios.
E até que o mosto dessa eucaristia seja decantado
o vinagre do mundo se acreditará a própria uva.
Resta-nos esperar que um mar enfim se abra
em passagem de redenção por entre conchas e areia
revelando a travessia em chão de estrelas
pisando um vinho que ninguém jamais provou.
Enquanto isso, nas patas dos demônios tudo vira capacho
e Deus é reduzido a uma blasfêmia!
Mas aqui...
Os ciprestes continuam apontando obeliscos
para a única resposta possível: O Alto.
Então a sede de redenção que engole a seco seu perfume
canta toda a aridez por fora com o oceano por dentro
e seu silêncio é uma cruz inevitável atravessada na garganta
concebendo um tsunami sem parâmetros nem fronteiras.