terça-feira, 8 de agosto de 2023

À sombra dos ciprestes de Van Gogh

 

À sombra dos ciprestes de Van Gogh


Todo aquele que tiver um obelisco na alma tocará os céus.


No entreato de infinito e fim

talhar a pedra com formas de múltiplos seres alados

tornará os deuses mais propícios e trará o bálsamo das nuvens de chuva

para amaciar o solo de onde se erguerá o cipreste do deserto.


Esta canção é sobre amanheceres inegáveis

de luzes impiedosas, heróglifos translúcidos

e pássaros convictos de claridade

que das cinzas incandescentes,

celebrarão numa atmosfera de espadas e encantos

a conquista das perdas de todas as ilusões, miragens e mentiras.


A rocha de seu talhe não será uma esfinge estática misteriosa.


Ela elevará meu sangue até recônditos distantes

e correrá veloz pelas areias devorando enigmas vermelhos

com seus dentes de sabre e de neblinas.


O leão de dentro ruge meteoros riscando um céu de antigas paisagens

enquanto às margens de um pântano de cicatrizes

com o gancho sábio e mordaz de seu bico

um íbis recolhe calmamente do lodo submerso

o que nutre a viagem silenciosa de seus voos sobre os lagos plácidos,

epigrama de incisões na pedra bruta

perante a qual nem sequer uma folha das margens se move por descuido.