quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nada e a nossa condição




Nada e a nossa condição

                                                         a João Guimarães Rosa


Não há sequer um poema por cometer...

A indolência das tardes de domingo

é passiva demais nos trópicos.


Não há lugar algum para ir, exceto aqui.


Há planos para uma viagem através:

mero subterfúgio para um tema.

Tropecei cáustico sobre emendas e estrofes

procurando calar com palavras meus apelos,

esbarrando em deuses e mandalas nas entrelinhas

para trazer à superfície a exaustão de todos os poemas,

a conclusão final de todos os meus medos

e um apêndice para a solução tardia dos meus desejos.


Tudo foi devidamente emprestado

como um crédito em forma de vida

dado pela tirania do destino,

sempre a postos como um cérbero

mordendo impiedosamente vezes três.


Inventei, portanto, pontes na neblina,

mapas para todos os precipícios

e escadas que me resgatassem em aeroplanos

sem metamorfoses de adeus.

E restou apenas um gosto amargo em forma de canção:

- Marcha soldado, cabeça de papel...


Mas ela ultrapassa em ser

qualquer rude poema

que não fale da alma.

A fome das águias também conhece as alturas.


Sempre à tona da alma com os poemas!

O verso é um brinquedo

e ele às vezes quer ser vão,

prefere falar às borboletas do quintal sem tecer enredos,

falar ao dragão das fábulas incendiadas

a ter de queimar suas próprias cinzas

na pira do sono e da cega clarividência

para renascer em seu voo de libertação.


Se não houver voos, farei meu itinerário a pé, descalço,

mais inconsequente que um Louco do Tarô.


A viagem também é como esse verso em forma de brinquedo.

Ambos são impermanentes,

Sonâmbulos interpretando o xadrez da realidade

num jogo perdido de antemão. Não há mistério.

O silêncio é a última porta.