Farruca
Preciso viver rente à minha seiva,
moendo o grão e o sal dos meus sonhos
para construir os alicerces de um paraíso,
recriando o dna de um Deus que me redima
de tudo que não pude polir:
diamante-réu de minha própria sina.
Até mesmo o que é raso, incondicionalmente
passa antes pelo véu dos meus profundos
porque é desse porto que eu venho
e dele estou sempre chegando,
leito de rio que permanece contínuo,
indômito, sem âncoras de partir.
Se persisto
é porque no íntimo meu lema é tempestades à risca,
cumpridas em meio ao calor da paisagem
e da gravidade que nenhum astronauta ousa ignorar.
Apenas cumpro rios em meus sonhos de acordar
como se tudo não passasse de hoje, de agora e de já!
Soa o alarme!
É o bote! Revejo tudo em oito segundos
e o infinito se desintegra imparcialmente.
Foi-se a vida num raro degradée,
gosto de quimera, sorrindo do que chegou a ser.