Ápex
A doce voz que cantava canções de acordar
para despertar a eternidade no verso dos meus dias
tem sussurrado um fio de esperança que permanece inaudível
porque os dias estão surdos e afogados
numa fumaça turva e confusa de destroços.
Com o coração pelo avesso
pulsa minha alma à procura de sorrisos
que não ousam brotar mesmo em silêncio
e assim meus sonhos dormem esquecidos.
Mas atento, ouço sementes germinando próximas à superfície
como um segredo prestes a ser revelado entre as pedras.
Vulcões ocultam luz em suas entranhas
onde o fogo dos deuses ferve o tempo num ventre negro
que pergunta pelo halo azul por onde a lava responde.
Tudo mais próximo, o nirvana e o caos
num emaranhado claustrofóbico de fios elétricos junto às estupas,
o legado estável de um beijo, dado aos homens que insistem
em continuar sua via crucis de sangue e terremotos.
Que indulgentes, ergam-se da lápide de si mesmos
e celebrem a criança perdida finalmente encontrada!
E principalmente, que permitam jardins ao redor das indústrias e automóveis!
Katmandu, 29 Novembro 2023