domingo, 19 de janeiro de 2014

Três Fados para Maga - [ III Lisboa ]



Fado de Lisboa

                                                      a Magali Merola


“Vivo. De quê?

Nem infância ou futuro decrescem.

Numerosas e múltiplas existências

transbordam de meu coração.”

 Rilke


Homem insone perante a lição das flores,

sinto-me pequeno diante delas

mas trago inteiro teu jardim por dentro.


Um paraíso que recompõe-se por conta própria;

flores de inverno que começam a surgir

independentes do meu desejo ou sina.


Tudo conspira

além das cordas

e do bojo sonâmbulo da guitarra

a cantar navios

além do Bojador.


Vivo teu inverno ensolarado,

terra prometida do teu Exodus

envolto em tuas canções aos tsunamis.


Assim eu queria teu fado e tua luz sem fim,

Maga flor, farol de todos os meus dias!


O sol de tua luz

fotossintetiza

o esboço das minhas cicatrizes,

marcas coloridas que se transformam

em cartoons de tatuagens

descrevendo sonhos que não dormem.


Para sempre teu perfume perseguindo minha essência,

queimando teu incenso numa saudade marítima

de portos por conquistar

sem dizer adeus às conchas da praia,

flor de um cais já conhecido

e antevisto em percepções de clorofila

escritas nas areias como todos nós.


Nós que se desatam:

Velas ao mar.


Maga flor de todos os meus dias,

anjo sem tempo inquestionavelmente aqui,

eco das ondas

em peito de eterna criança conjugada.

- Meus verbos são teus.


O Todo que hoje vivo

é como o dia em que te conheci

num progresso de coreografias não marcadas

onde cada passo está ainda por acontecer

e é desde sempre a Dança que te imortaliza

neste palco isento de cenários

do meu coração cigano

sem a maquiagem do tempo.


Dança, minha eterna Musa!


A memória de todos os poetas

é apenas um olhar de teu olhar,

um vislumbre de segundos

abraçando toda a dimensão da tua paisagem

mais o céu inteiro:

dimensão rediviva que te perpetua

em constelações de agora-já com o teu nome impresso nelas.


Sem fim, absoluta,

complexo jardim de estrelas:

Maga luz, flor de todos os meus dias!






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