Fado de Lisboa
a Magali Merola
“Vivo.
De quê?
Nem infância ou futuro decrescem.
Numerosas e múltiplas existências
transbordam de meu coração.”
Rilke
Homem insone perante a lição das flores,
sinto-me pequeno diante delas
mas trago inteiro teu jardim por dentro.
Um paraíso que recompõe-se por conta própria;
flores de inverno que começam a surgir
independentes do meu desejo ou sina.
Tudo conspira
além das cordas
e do bojo sonâmbulo da guitarra
a cantar navios
além do Bojador.
Vivo teu inverno ensolarado,
terra prometida do teu Exodus
envolto em tuas canções aos tsunamis.
Assim eu queria teu fado e tua luz sem fim,
Maga flor, farol de todos os meus dias!
O sol de tua luz
fotossintetiza
o esboço das minhas cicatrizes,
marcas coloridas que se transformam
em cartoons de tatuagens
descrevendo sonhos que não dormem.
Para sempre teu perfume perseguindo minha essência,
queimando teu incenso numa saudade marítima
de portos por conquistar
sem dizer adeus às conchas da praia,
flor de um cais já conhecido
e antevisto em percepções de clorofila
escritas nas areias como todos nós.
Nós que se desatam:
Velas ao mar.
Maga flor de todos os meus dias,
anjo sem tempo inquestionavelmente aqui,
eco das ondas
em peito de eterna criança conjugada.
- Meus verbos são teus.
O Todo que hoje vivo
é como o dia em que te conheci
num progresso de coreografias não marcadas
onde cada passo está ainda por acontecer
e é desde sempre a Dança que te imortaliza
neste palco isento de cenários
do meu coração cigano
sem a maquiagem do tempo.
Dança, minha eterna Musa!
A memória de todos os poetas
é apenas um olhar de teu olhar,
um vislumbre de segundos
abraçando toda a dimensão da tua paisagem
mais o céu inteiro:
dimensão rediviva que te perpetua
em constelações de agora-já com o teu nome impresso nelas.
Sem fim, absoluta,
complexo jardim de estrelas:
Maga luz, flor de todos os meus dias!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA epígrafe pertence aos versos finais da Nona Elegia de Duíno.
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