sábado, 11 de abril de 2015

O Leão de Dentro


O Leão de Dentro

                                                               a Radha Vasumathi

Comecei a mergulhar naquele limbo
entrando devagar no palácio de espelhos
como num purgatório
que doesse um paraíso a cinco minutos
sempre por ser alcançado.

Mesmo a 200 km por hora
a larga sucessão de horizontes
perde o fôlego panorâmico nas retinas incansáveis.

Que liberdade paralela
me funde ao nada e ao já-no-enquanto?

Só o tutano do espírito
capaz de vibrar seu princípio a cada instante
compreende...

Medo de pular as entrelinhas?

Saci bissexto em dia de domingo
adianto a pólvora dos relógios
alcançando um dia útil que permita
incendiar de uma vez por todas
a roça de milho e tecer tranças cegas
nas crinas dos cavalos selvagens do destino
virando o folclore pelo avesso
para estabelecer um vínculo imediato
e impávido
com a próxima página.

Nômades não têm pretexto, decididamente.

Tudo é motivo para partir
mesmo que não se conheça o itinerário
e a única coisa a conferir
seja a eventual falta de combustível
para prosseguir adiante
totalmente na contramão
em estado de alerta.

Adiante no avanço das horas!
Ainda que não se adivinhe o conteúdo
ou se conte quantos quilômetros faltam
para trocar definitivamente as lentes
e subverter a paisagem de uma vez por todas.

A estrada é só o que conta
para intermediar a meta
e a percepção da viagem para dentro:
hélices que o tempo afronta.

Saber dos tutanos do espírito...

Com um espinho de gelo no coração
parto em nômades comícios
para dentro do silêncio
que derretido pelo calor resignado
deixará uma brecha
para que o sol penetre a aorta
e disperse toda sua luz
pelo meu corpo então aceso:

Completo farol para as estrelas!