À sombra dos ciprestes de Van Gogh
Todo aquele que tiver um obelisco na alma tocará os céus.
No entreato de infinito e fim
talhar a pedra com formas de múltiplos seres alados
tornará os deuses mais propícios e trará o bálsamo das nuvens de chuva
para amaciar o solo de onde se erguerá o cipreste do deserto.
Esta canção é sobre amanheceres inegáveis
de luzes impiedosas, heróglifos translúcidos
e pássaros convictos de claridade
que das cinzas incandescentes,
celebrarão numa atmosfera de espadas e encantos
a conquista das perdas de todas as ilusões, miragens e mentiras.
A rocha de seu talhe não será uma esfinge estática misteriosa.
Ela elevará meu sangue até recônditos distantes
e correrá veloz pelas areias devorando enigmas vermelhos
com seus dentes de sabre e de neblinas.
O leão de dentro ruge meteoros riscando um céu de antigas paisagens
enquanto às margens de um pântano de cicatrizes
com o gancho sábio e mordaz de seu bico
um íbis recolhe calmamente do lodo submerso
o que nutre a viagem silenciosa de seus voos sobre os lagos plácidos,
epigrama de incisões na pedra bruta
perante a qual nem sequer uma folha das margens se move por descuido.
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