Plêiades
Translúcida voz que vem dos veios
onde meus verbos refletem versos e rimas
de perguntas sendo as próprias respostas
em reticências e pontes ligando dois amanheceres.
A criação, que almeja reflexos
a exemplo de imagem e semelhança,
busca no barro a divindade respirada
e no lago, a placidez do céu impressa.
Assim, o mar reflete o alto
para os argonautas de régua e compasso
e o mastro como obelisco rege o firmamento:
rito de incineração e passagem do humano para o mito.
Mísseis não podem apagar estrelas...
Enquanto sereias induzirem ao naufrágio
eles atravessarão a noite na constância de seus remos,
surdos à ilusão silenciosa do abismo,
heróis confrontando enigmas apenas pelo suor de sua lida.
Essa mensagem se auto apagará no prazo de validade,
mas a saga que ungiu seu tempero de vida entre as ondas,
permanecerá no sal do tempo,
diluída entre as estrelas e os deuses sempre alertas,
entrevista num dorso adamascado de breu e oráculos.
As constelações marcarão rota e hora
na aurora das canções imaculadas que eles trarão,
frescas e tenras como no primeiro dia do Gênesis
quando um gosto de Deus andando sobre as águas
permeava tudo, esperando as garatujas, borrões e andaimes
de ninguém menos
que Michelangelo Buonarroti
cumprindo tudo à risca, devolvendo horizontes.