Gárgulas
Sete vezes circundei a grande estupa num dia de chuva
e as contas corriam meteoros entre meus lábios e meus dedos.
Meu barco de papel infundável
trazia de proa a popa
coisas escritas sobre a flexibilidade
do mundo submarino a alguns pés abaixo
enquanto a guerra devorava as praias da Palestina
em corais vermelhos nos arrecifes, rubros pela asfixia
de gritos que se calaram
entre tramas e urdiduras:
cadafalso que suas gargantas jamais planejaram cumprir.
Nem mesmo os gumes afiados das minhas facas
podem superar parabélicos, o corte exato e calmo
da lâmina flamejante da espada de
Manjushri.
Indra tece pacientemente
o teor dos dias que ainda estão por vir…
O mundo, que sempre se ergueu às custas de sua própria derrocada
assiste impávido o mercado de ações do seu preço
despencando loucamente o abismo dos homens.
Houve um tempo de vinho e rosas
e os tapetes falavam e voavam entre as videiras
na época da colheita das últimas uvas.
Mas isso foi há muito tempo...
Desde então a umidade imprimiu bolor em nossas retinas
e nunca mais houve primavera.
O sol se ergue todas as manhãs quase por descuido
conferindo se ainda há algo sobre o que brilhar
e as gárgulas espiam o tráfego sonolento dos réus
arrastando correntes de escuro pelas ruas condenadas em ruínas.
Eles reconstruíram Notre-Dame.
No entanto, os anjos ainda não voltaram para as naves.