Balada
para a casa vazia
Um
atalho para a saída do labirinto,
meu
pátio é meu desassossego,
aberto
púlpito para todos os cômodos vazios acima,
quartos
voluntariamente desapropriados
livres
de todas as pegadas
olhando
vultos que ainda insistem em voltar.
Mar
bravio. Uivos nas venezianas.
Vento
causticante polindo lembranças e arestas.
Mantras
percorrendo pistas,
deixadas
pela praia num rastro de escamas
como
um netuno que atrasasse a maré baixa
imprimindo
brilhos na areia
que
as ondas apagarão
antes
que se decifre o enigma.
Irônica
liturgia divina.
Só
ao destino é dado o cetro do martelo como veredito.
As
conjunções planetárias
– látegos para o lombo dos homens –
– látegos para o lombo dos homens –
não
passam de sorrisos de escárnio
para
a grandeza dos deuses.
Coisas
que ficaram impressas como folhas secas
e
que encontro ao acaso dentro dos livros.
Olho
para elas e não sei de onde as trouxe
ainda
que guardá-las tenha sido um gesto estratégico
para
me remeter a algum lugar onde estive.
Ineficaz,
o passado emerge impotente das páginas
como
um cartão-postal sem endereço ou remetente.
Certos
truques decisivamente não funcionam.
Viver
intensamente muitas vezes não deixa nenhuma pista.
Nem
mapas.
Mas
tenho visto tudo muito de perto – tão de perto
que
crio nuvens de calor no espelho a cada suspiro –
essa
necessidade de raspar fundo a bateia no areal
a
partir de tudo que precisei reinventar
e
manter a identidade visível no reflexo do escafandro,
espantalho
amigo dos pássaros,
anjo
traído pela liberdade das asas,
poeta
inefável.