quinta-feira, 15 de março de 2018

Alfanje



Alfanje

                                        a Ahmed Diab
Era uma vez, num trigal dourado,
a vida em acres e hectares.

Em sua gênese,

sulcos revolvidos, marcas e veios

formados ao longo do tempo

que o húmus guardou em véus

de Perséfone, por segredos de abismo

num caminho de conquista da paisagem.

Dos vincos talhados 

que curso e fado do arado mapearam

em rastro de encantos,

sementes germinaram.

E na pista

desse itinerário percorrido

 Deméter foi coroada em Elêusis.


Se olharmos para trás

não reconheceremos mais o percurso

do nosso próprio rapto.

A visão panorâmica é outra.

Hades é um deus tectônico

quando a superfície fértil e febril 

corre célere no filme dos frisos.


Ao longe, do cinzel de um teatro de sombras,

carvalhos imensos cresceram,

recortando a geografia do horizonte

contra um céu único e impávido

e nem sempre o mesmo:

intrépido circo movente.


Desde que a chuva fresca transpirou nossas pegadas

com o suor dos dias e dos fardos

somos agora a colheita dos nossos próprios passos

num deserto sem esfinges.






























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