Alfanje
a Ahmed Diab
Era uma vez, num trigal dourado,a vida em acres e hectares.
Em sua gênese,
sulcos revolvidos, marcas e veios
formados ao longo do tempo
que o húmus guardou em véus
de Perséfone, por segredos de abismo
num caminho de conquista da paisagem.
Dos vincos talhados
que curso e fado do arado mapearam
em rastro de encantos,
sementes
germinaram.
E na pista
desse itinerário percorrido
Deméter foi coroada em Elêusis.
Se olharmos para trás
não reconheceremos mais o percurso
do nosso próprio rapto.
A visão panorâmica é outra.
Hades é um deus tectônico
quando a superfície fértil e febril
corre célere no filme dos frisos.
Ao longe, do cinzel de um teatro de sombras,
carvalhos imensos cresceram,
recortando a geografia do horizonte
contra um céu único e impávido
e nem sempre o mesmo:
intrépido circo movente.
Desde que a chuva fresca transpirou nossas pegadas
com o suor dos dias e dos fardos
somos agora a colheita dos nossos próprios passos
num deserto sem esfinges.
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