segunda-feira, 23 de março de 2020

Ele e a lâmina prometida

Ele e a lâmina prometida


O escudo de Athena era polido

como um espelho cristalino.


Filho de Dânae, concebido de uma chuva de ouro

e alado agora pelas sandálias de Hermes,

Perseu cantava assim nos interlúdios:


E sob o elmo de Hades

que me fez invisível

nada me escapa e ninguém me vê.


Do reflexo, ele pôde vislumbrar a posição da medusa

e estudar melhor a precisão dos golpes

vivendo o script que lhe cabia no momento

ainda que não tivesse aprendido com deus nenhum

a ser mito ou herói de saga alguma.


Contando de antemão

com as ferramentas no viés do exercício

teceu sua lenda como quem riscasse um círculo

de sua espada curva e fatal,

a única arma que realmente lhe pertencia,

e gume do aço que selou de vez sua lenda

e apagou para sempre o jugo da górgona no penhasco.


A inteligência de sua destreza

justificou sim, a intercessão alerta dos três deuses

como luzes de sua cega e bárbara coragem.


Aos frisos congelados e extáticos dos olimpos

falta a voltagem escatológica da carne e do sangue

capaz de cumprir a eletricidade de todos os enredos

tentando adivinhar o vulto de algum Prometeu caído

mas livre da tortura das águias.


De pó e lama constroem-se os mitos.













































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