Ele e a lâmina prometida
O escudo de Athena era polido
como um espelho cristalino.
Filho de Dânae, concebido de uma chuva de ouro
e alado agora pelas sandálias de Hermes,
Perseu cantava assim nos interlúdios:
E sob o elmo de Hades
que me fez invisível
nada me escapa e ninguém me vê.
Do reflexo, ele pôde vislumbrar a posição da medusa
e estudar melhor a precisão dos golpes
vivendo o script que lhe cabia no momento
ainda que não tivesse aprendido com deus nenhum
a ser mito ou herói de saga alguma.
Contando de antemão
com as ferramentas no viés do exercício
teceu sua lenda como quem riscasse um círculo
de sua espada curva e fatal,
a única arma que realmente lhe pertencia,
e gume do aço que selou de vez sua lenda
e apagou para sempre o jugo da górgona no penhasco.
A inteligência de sua destreza
justificou sim, a intercessão alerta dos três deuses
como luzes de sua cega e bárbara coragem.
Aos frisos congelados e extáticos dos olimpos
falta a voltagem escatológica da carne e do sangue
capaz de cumprir a eletricidade de todos os enredos
tentando adivinhar o vulto de algum Prometeu caído
mas livre da tortura das águias.
De pó e lama constroem-se os mitos.
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