A Voz da Floresta
O zíper indômito da alma
desconstruindo o vinco da máscara,
dos rótulos e dos vínculos,
desvenda um selvagem inocente
que vive aqui dentro,
desconhecendo o limite claustrofóbico dos muros
e que respira num só trago
toda a emanação úmida da floresta.
Assim, internamente nu,
vestido apenas de amanhecer,
ele sai para conquistar o leito de rio
que o conduz até um mar
sem regras e frações de tempo,
onde tudo acontece simultaneamente
e tudo se congrega, compreende e se acalma
e o profundo se enxerga intacto feito dia.
Com o vasto oceano destilado no peito
seu coração é um sino dobrando a liberdade
em que a luz incide o princípio
de poder andar descalço para sempre
porque o solo foi agora consagrado imortal
e os deuses voltaram definitivamente do naufrágio
trazidos por aquele que domou a volúpia das águas
e transformou os peixes em pássaros que respondem.