Legato
Os verdadeiros alpinistas almejam os céus.
A falta de asas fez com que os homens se apaixonassem
pelo perfil íngreme das encostas
e inventassem a dança para conquistar o espaço alado
entre Deus e o chão.
E assim herdamos linóleos e neblinas.
Para quem os precipícios são degraus,
o coração segue aos tropeços
enquanto as mãos calejam a impiedade fria das escarpas
e os músculos tremem pela escalada até o topo
em suor e êxtase.
Eles sabem que o pináculo
é o ponto mais próximo do nada
cismando reflexos em cristais e gelo.
Píncaros ímpares, sustentem todas as nuvens ao redor
porque na base da montanha ficaram todos os adeuses:
pedras fundamentais de começos,
meios e fins cobertos pela avalanche implacável do tempo.
Moldando leões na neve das rochas, permanecem os sonhos
expiando os rugidos de cada passo rumo ao Dia da Ressurreição,
quando a Pedra Negra falará em favor
daqueles que a tiverem beijado.
E as bandeiras de oração tremerão ao vento
desfiando rosários pelos vales de Indra
como um murmúrio uníssono que se revelará em mil ecos depois
no sopro de um único silêncio,
sem qualquer ruído, sem nenhum sinal.
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