sexta-feira, 15 de abril de 2022

Legato

 

Legato


Os verdadeiros alpinistas almejam os céus.


A falta de asas fez com que os homens se apaixonassem

pelo perfil íngreme das encostas

e inventassem a dança para conquistar o espaço alado

entre Deus e o chão.


E assim herdamos linóleos e neblinas.


Para quem os precipícios são degraus,

o coração segue aos tropeços

enquanto as mãos calejam a impiedade fria das escarpas

e os músculos tremem pela escalada até o topo

em suor e êxtase.


Eles sabem que o pináculo

é o ponto mais próximo do nada

cismando reflexos em cristais e gelo.


Píncaros ímpares, sustentem todas as nuvens ao redor

porque na base da montanha ficaram todos os adeuses:

pedras fundamentais de começos,

meios e fins cobertos pela avalanche implacável do tempo.


Moldando leões na neve das rochas, permanecem os sonhos

expiando os rugidos de cada passo rumo ao Dia da Ressurreição,

quando a Pedra Negra falará em favor

daqueles que a tiverem beijado.


E as bandeiras de oração tremerão ao vento

desfiando rosários pelos vales de Indra

como um murmúrio uníssono que se revelará em mil ecos depois

no sopro de um único silêncio,

sem qualquer ruído, sem nenhum sinal.



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