segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Do Mistério entre Árvores e Homens


Romãs

                                                a Maria Lucia Merola

Três romãs vieram me contar sonhos vivos de natureza

num dia de amanhecerem os alentos

em que o ‘espírito de Deus movia-se sobre as águas’.


Puseram-se diante de mim, entradas pela porta da frente,

num prato de louça em minha mesa, posta para a próxima aquarela

que eu pintaria em meus desejos sem fim.


Queimando em vermelhos de insistência, incêndios de fertilidade,

a primeira me falou de vertigens que sofrera na árvore

em condenações de prosérpinas e perséfones: lenda de tudo,

e de como os homens costumavam conversar com ela

numa linguagem cifrada a ouro e prata

cujo código depois não conseguiam repetir entre eles mesmos.


Há certa fragilidade nessas relações

onde o silêncio fortalece o claro enigma

como janelas abertas para um novo dia.


E em questão de segundos,

impávida sem fim,

a segunda romã me perguntou sobre a terceira,

não mais presente.


Esta, aberta para o Trabalho,

com o passar dos dias queimara sua própria existência

num altar onde se adorava o belo

sem precedentes de qualquer diálogo entre mito e ser.


Alquimia de sangue e húmus

meu coração em triângulos se perguntava

sobre o fado como fruta do destino

a transmutar-se em água e cor sobre um papel…


Imersa em branca folha e entre vozes de chiaroscuro

a terceira romã nos respondeu então em sobretons:

- Ein sof


E assim, num diluir de falas

através do que nos disse em flamejantes

restou o amor que nunca estanca, só abrange,

incenso queimando superfícies para atingir estratosferas.


E ouvimos então da árvore

que tudo sabia desde o princípio sobre o fim de tudo

até que um sfumato calou nossos cinco lábios

numa moldura de sorrisos sem fim.

Sem precedentes.

                                               16.09.13






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