Cordel de Prometeu
ΓΝΩΘΙ ΣΕΑΥΤΟΝ
(Pórtico do Oráculo de Delfos)
a Maria Lucia Merola
Por mais que me amedrontem os dilúvios
ou que em raios fulminantes se consuma
o dia em que por voluntário infortúnio
decidi pela luz no fim do túnel
repito incólume a função de Prometeu:
ainda que vencido, vingado!
E que a distância tenha sido muita, pouco importa:
mínimos flashes no escuro
nos divisam profundos precipícios.
-
Antevisão -
Por vezes desço ao escafandro.
...Receio dos abismos do rio
onde um seixo movido muda todo o percurso...
Sem que me pesem as roupas dos míopes pecados,
testemunhas oculares da lei da gravidade,
invento em couraças que esse preso engenho abissal
seja um titã rarefeito em sonhos de astronauta.
Ainda não alcancei tecnologia de ponta
que subvertesse a ordem das coisas
e me fizesse levitar de volta à superfície.
Meu peso é meu sangue.
Por isso me deixei estar nesse limbo em úteros
ocupando um parto invisível enquanto fico.
Cada mergulho é uma afronta a essa gênese.
Sei apenas o caminho de ida.
A volta é sempre um enigma no sapato:
se me calço, não me caibo.
Quando
me vejo, raro me acho
que me dê na gana.
Deixem-me estar, pois, de pés no chão
em
asas firmes que sintam o Absoluto
sem voos de cera.
Decifrem agora esse paradigma, homens,
antes de trazer-lhes o ônfalo mercúrio
para gritar mediúnico aqui da margem
que encontrei heroico o metal nesta bateia.
Desse garimpo fiz meu reino às avessas
apenas para inverter a morfologia dos sentidos,
perpetuar
meu ouro
como um símbolo de poder e discórdia
e manter um pé de conflito
que me permita olhar pitonís por entre as águas do entorno
através da clarividência do áureo Rhuo,
deus de todos os rios e montanhas magnéticas.
Saber num relance onde se encontram os veios
em oráculos bem guardados de correnteza sem fim:
olhos
de águia,
vigílias de coruja,
voos verticais de falcão:
Nada em excesso
03.10.13
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