quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Kailash



Kailash


Três vezes circundei a montanha

antes que a neve caísse em meu rosto.


Um marco deixado entre as bandeiras das colinas,

um murmúrio de ventos revelando rezas

em mensagens cifradas a ouro e prata.


Sussurros de veracidade soprados desde sempre

pelos desfiladeiros e amplitudes ao redor...

52 km em sentido horário.


Poeira nos lábios e na garganta

devido às prostrações.


Calosidades nos pulsos

após tantas fricções nas pedras do caminho

e a alma limpa de um dervixe giratório.


Kailash desde sempre...


...Indus...


Três vezes os senhores de todos os tempos

voltaram-se para me lembrar a linha demarcada

entre a vivência dos limites

e a amplitude dos sonhos por serem sonhados.


Espelhos que desvendaram verdades cruas

mas prontas como um pesto ala genovese

que deveria ser comido frio.

Assim fiz.


A fome que me encontra hoje...

não é mais um jejum sublimado e voluntário...


...Sutlej...


É sentar-se então à mesa e iniciar com um brinde

à luz maior que abençoa todas as refeições,

a responsável pela fome mais sagrada:

a que sempre trazemos como provisão aos nossos dias insanos...


...Brahmaputra...


Nosso desejo maior de nutrir o mundo em alcaloides

é fazer da luz espessa do termômetro, uma neblina

para arrefecer qualquer temperatura

que porventura ainda não tivermos decifrado

apenas para afastar as miragens da febre que encanta

mas não sacia sede alguma.


Ilusão sôfrega...


Hoje os cantis estão cheios de néctar.

A caravana é uma cidade em dia de música.

As abelhas agora produzem mel nas rochas do deserto!


Num espaço sem medidas

com a ampola do tempo feito neve derretida...


Frente a um espelho que não acrescenta nem subtrai,

refletindo alturas sem previsão alguma de alpinistas

na conversão de quatro grandes rios imaculados

circundando um ônfalo:

sede vencida!


...Karnali...


Kailash pairando acima da névoa...


A montanha não precisa ser conquistada.

Basta sua visão em magnitudes

para atingir o Sol além das nuvens

e abraçar atmosferas que gravitam

tanto na Via Láctea quanto nos elétrons em torno do coração.

Imutável despertar sem fronteiras.







Um comentário:

  1. Há um documentário de Werner Herzog no Youtube "The wheel of time" onde aos 30 minutos ele fala mais particularmente de Mount Kailash. É uma montanha sagrada para quatro grandes religiões. Quatro grandes rios asiáticos têm suas nascentes perto de Kailash. Ela é considerada assim, um ônfalo, um "Centro do Mundo". Em CartasdeEinKarem há uma postagem sobre Milarepa que narra tudo isso.

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