A Abelha e a Cigarra
Assim a vida nos oferece seu fel biliar
que a coragem destila em néctar de redenção tempos depois.
Por vezes não há como envergar o vinco deixado
como pista para que se continue a estrada.
Come-se o pó da rua descalça e cospe-se adiante um tijolo
e que será a fundação de um alicerce por iniciar-se
num futuro nem sempre remoto,
quase sempre mais surpreendente e melhor
que os últimos precipícios de resguardo!
Meu sangue é meu preço. Veias que saltam o garrote que tortura.
Já não trago o gosto hemático ferroso na garganta
que tanto gritou às estrelas de outros dias.
Mesmo a beleza da paisagem parecia envolta por um véu à minha frente.
Sequei as lágrimas no tecido e vesti os óculos de acordar.
Após uma congestão de maresia,
a vida sabe às vezes a champanhe gelada de consolo.
Mas estalei pouco a pouco minha revivida casca de cigarra
pra cantar a primavera das flores novas que surgiam.
Pavio aceso
canto conjugado em explosão de mil versos
perante um exército cego de formigas dos meus medos.
Ein Karem 16.02.14