O Marinheiro
"...And if a strange asks you,
tell him that I am he, a blind man
dwelling on the rocky island of Chios,
whose songs shall be in time to come..."
Homer
"Place me on Sunium's marbled steep,
Where nothing, save the waves and I,
May hear our mutual murmurs sweep;
There, swan-like, let me sing and die;"
Lord Byron
A aceitação paciente do calendário em destino de alto-mar
é virtude de almirantes sabiamente consagrados.
Sina de Argonauta?
Aprendi na Escola de Sagres
a fazer da navegação em si o pão nosso de cada dia,
mesmo que o fermento não desse seu lêvedo a tempo de forno
e a massa amargasse ázima o frigir da fome que nos justifica,
mais nada.
Na alegoria da ponte
para ir de uma margem à outra
é preciso viver a trajetória passo a passo.
Não há sequer como medir os abismos das entrelinhas
ou olhar para trás e marcar um retorno,
tal é o arado resfolegante da vida!
Que o jejum no deserto pós-Egito
valha então o mar dividido como passagem!
Algas e conchas por asfalto
à guisa de pedrinhas de brilhantes...
Pérolas apanhadas então da areia
pelos tombos que as vislumbraram: espólio de batalha!
Atravessei um intervalo de aridez sem me dar conta.
Em tudo, via comprometido
como se usasse óculos escuros de mergulho,
o peso do escafandro a determinar o curso do meu rio...
A atmosfera rara dos voos seguros
sempre forneceu oxigênio e matéria-prima
para o antídoto da asfixia
que anda às voltas na superfície das águas.
Aceitar os limites visíveis a nos impor o passar a vida a limpo
e de rastros
é um bom disfarce esotérico para aquele
que pretende desvendar o labirinto da entrada de Chartres.
O enigma só faz sentido quando percorrido de joelhos,
cada centímetro valendo a extensão de um abraço no destino aceito.
16.02.14
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