Cinderela
“Todos os meus ossos dirão: Senhor, quem é como vós?”
Salmos
35:10
a Maria Lucia Merola
Um corisco de meteoros
atravessa a densa neblina habitada dos últimos invernos.
De acordo e trato com o destino,
meu conforto era o borralho.
Mantras murmurados pelos ventos do vale todas as tardes
na expectativa de que os mapas todos se fundissem
numa região abissal completamente conquistada
por geografia de carochinha submissa em tempos de fênix.
Quem determina?
Internos que comandaram e seguiram rumos sequer imaginados,
lampejos de compreensão quase inaudíveis...
Decidi viver o desconforto do Conto de Fadas
na vez da bruxa e deixei que ela se entretivesse
com seus caldeirões de fada madrasta.
Quem pode saber quando virá a hora do Baile?
Saí de foco procurando um sapateiro pelas ruas da cidade,
pés no chão e peito nas alturas,
dono feliz e triste do completo itinerário.
Branca de Neve sabe o tempo todo da maçã envenenada
mas comete sempre o mesmo erro por resignação à fábula.
A princesa da alma conhece a nobreza do destino
e também o reino que o preço do sequestro exige como resgate.
No virar das páginas
que astrolábios inventar então
para beijar esses céus por entre as fendas
de final feliz que nunca chega?
Fábulas e padrões sem medida
seguem cálculos que a previsão não lê,
binóculos e lentes que nossa visão de horizontes
não delineia de resvalo. Não se sabe o fim da história
e a hora é agora, na realidade da vassoura,
na faxina interminável de todos os meus dias
esperando um príncipe que eu sei, existe!
À falta de outros lábios
beijo os espelhos na paixão convexa da própria sina,
expandindo os muros da prisão nesse borralho,
criando sonhos de Bela Adormecida que nunca dormem,
comendo páginas do diário nesta torre
pra divisar os horizontes da Floresta
e digerir o fado que me induz em congestão irreparável de liberdade.
Eu acordo do Livro.
Tudo ao mesmo tempo agora.
Finda fábula!
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