Hélices
a Alaa Awad
Hoje
eu cantaria para você
uma
canção que falasse dos abismos
que
escondem universos insondáveis
entre
oceanos que nos separam
e ao mesmo tempo nos congregam,
e ao mesmo tempo nos congregam,
réus
impunes do mesmo ar rarefeito
que
embriaga e alucina tempestades à risca.
Hoje
eu dançaria para você
a
liberdade de todas as asas entreabertas
indicando
a queda e o extermínio de todos os muros
e
a ascensão definitiva de todas as escadas.
Dançaria
para você de uma forma iluminada
para
contar do voo dos pássaros
surgindo através da neblina
surgindo através da neblina
trazendo
uma forma de turbina em pleno vácuo
para
celebrar a velocidade dos astros
em
hélices que exterminassem a noção de tempo.
Emaranhado
de estrelas
o
ninho morno da Poesia cria, irreparável
essa
linguagem muda de estátuas
que
não precisa justificar o belo
a
não ser pela arrebatada presença das pedras
que
um dia foram talhadas
independente
dos mapas que nos circundam
e
dos limites que aparentemente nos impõem
as
longitudes do que sempre está perto...
A
grandeza é a mesma.
As
impressões talvez mais
retumbantes.
Mas
a alma que está ali tem a mesma quietude
ampliada
em 360 graus sublimes
de
decolagens e chão.
Ouvir
as castanholas a tempo
na
voz dos mármores que pulsam virtudes...
Ainda
não parei para me estranhar desde então.
Vou
sendo tomado pelo santo ofício
de braços tão abertos
de braços tão abertos
que
não há cruz de mundo
que possa refrear meu voo:
que possa refrear meu voo:
Só
o puro ar me avança.
Dedilhados
versos me contenham para apropriadas estrofes!
Canções
que jamais serão vistas!
Marcas
que ficarão expostas nas lajes dos rochedos!
Os
deuses sempre de plantão nesse panteão de anonimato.
Feliz
por ser invisível.
Ninguém
dá fé às bênçãos silenciosas.
As
flores são testemunhas sem ruído de todo sempre
e
não fazem censo ao número excessivo de borboletas
que vêm incondicionalmente beijar todas as pétalas
que vêm incondicionalmente beijar todas as pétalas
desta tarde que me encontra aqui
como
um amante incinerado de sol.
Meu
rio corre sem margens para seu fado de Oceano
e
não sinto crédito algum por isso
que
não a ousadia suprema
de poder contar estrelas em plena luz do dia
de poder contar estrelas em plena luz do dia
com
astrolábios a título de marcapasso:
exocardias num turbilhão de veias,
exocardias num turbilhão de veias,
a
jugular exposta num grito de mármore
causando cinzéis de liberdade.
causando cinzéis de liberdade.
Entro
devagar no quarto de espelhos...
Vivo
agora universos nas minhas moléculas.
Uma oração em silêncio. Cabe na palma da mão
e
pode abraçar um céu inteiro.
Hélices...
Em
terras aborígenes
não
se afiam bumerangues.
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