quinta-feira, 25 de junho de 2015

Ciranda Muiraquitã



Ciranda Muiraquitã
                                                                    a João Guimarães Rosa

Era uma vez uma concha que abrigava em seu íntimo calcário
Toda a imensidão do Oceano em noites de estrelas.
E os navegantes incautos que tocaram sua branca superfície 
Ouviram histórias de ondas e mares distantes
Que sua voz de tímpano contava
Sobre marinheiros de ébano curtidos a sol e sal
Em bravura de beleza embriagada.

E a concha abrigava em seu íntimo todos os sete mares
E a imensidão dos olhos do menino que lhe encantava mineral, o fado.

E contava o menino aos almirantes a postos
Da concha que era o próprio mar em que estavam e ouviam...
E em suas canções de criança
Todos os oceanos eram resposta clara à sua voz:
Arcanjo Gabriel quando chamou Maria.

E todos os oceanos a postos se continham gotas
No interior da concha acústica de cálcio. Puro desejo.

E vai que um dia o menino acorda em outra concha
Por direito de lenda ser e agir de acordo.
E a concha...

Mas qual delas, diria o poeta para além da história
Com sua voz, também de anjo...

Dizem que mesmo em sagas assim difuso
Um deus movido a sol e sal
Mostra-se Rei. E é tudo.

Pouco sabemos da natureza fugaz da criança
Que tece mistérios que nem o mar comporta.

Mas sabemos o gosto do Absoluto
De sabor inconfundível, fantástico e exato.

Além do mais, ele era boto, almirante e Netuno.

E era menino, sabia tudo.


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