de refém num amplo jardim
como prisioneira de outras cores
e seu tênue virtuosismo
abraçar um céu inteiro!
Percurso
Invento verbos que não registro
olhando paisagens que ultrapassam o transferidor.
Há muito tempo
trouxe um fardo que a poeira foi comendo pela estrada
sem deixar rastros, cúmplice e companheiro do vento
que apagou todos os vestígios sem deixar endereços ou mapas.
Hoje, percebi que o hálito úmido da manhã,
perspicaz, envolvia um céu no vale.
Já faz tempo.
que as bússolas foram atravessadas
e os astrolábios beijados em diários de viagem
borrados de batom quando faltavam palavras.
Certa vez as estrelas se compadeceram
e vieram se refletir no azul do lago
emaranhando astronautas e argonautas
para consternação geral de satélites e escolas de navegação.
Assim, trezentos e sessenta graus foram cumpridos sem compasso,
sem êxodo, degredo ou promessas de constelações desconhecidas.
O Cerne dos Infinitivos
Manter a vida diária intacta
sem amarras ou conflitos
preferências ou rejeições
e receber tudo com a resignação do Buda
que apenas comia do que caía em seu prato...
Saber nos tutanos do espírito
da imparcialidade das flores
que tudo ouvem e vêem
com o mesmo senso tenro e fresco de presença
e conservam, imaculadas, o belo de seu ser
em guirlandas para todo destino, incondicionalmente:
seiva que tragou um dia do próprio âmago da terra.
Guarda o coração, esse tesouro,
não como baú de segredos
mas uma chave-mestra que possa abrir todas as portas
e ultrapassar tanto degredo
daquilo que nunca foi tragado pela distância.
Séculos ocultos em caixas de Pandora
seriam um colapso à arquitetura fria dos relógios.
O visível é apenas um repertório de mentiras
que o mundo desfia num rosário de miragens sôfregas
e os homens imprimem ao longo de sua história
paramentados em cega liturgia de ruídos.
O cenário do paraíso dispensa muros na paisagem
tudo está perto e palpável como no primeiro dia dos mundos
sem nada que separe a cálida surpresa da aventura
de sua realidade suprassensível aqui: pura fábula!
(Entre um pulsar e outro
o miocárdio abriga em seu útero livre
a possibilidade de todos os aeroportos!)
Um rio que já tivesse cumprido seu fado de oceano,
tudo às avessas, como séculos ocultos em caixas de Pandora
sendo um insulto à arquitetura fria,
ainda que magnânima, de todos os relógios!
Big
Ben
Big Bang
Tanto faz!
Intermezzo:
Ela cantou:
O tempo não volta: enlaça!
E ele em baixo contínuo:
Amor que não estanca, abrange!
Luz através das varandas!
(Cena do Balcão em Romeu e Julieta)
Intraduzíveis sentinelas
da grandeza do espírito
que não conhece tempo, espaço, vida ou morte
os livros sagrados são cantados,
na busca da irreproduzível linguagem do eterno.
Ariadnes em prelúdios
intercedam fios nessas meadas de presságios,
contos de fada à guisa de faróis,
e deuses que nos mantenham neste mesmo porto
de nenhuma conclusão,
onde o pensar em qualquer partida
já é em si mesmo uma conquista
e o tratar de ser luz, seu único parâmetro.
Enquanto isso, berbere
atravesso tudo a pé, tamaxeque
num voo rasante pela amplitude do vale
triturando uma nova poção mágica
para extrair todos os fôlegos num só golpe:
Tablacadabra