domingo, 16 de junho de 2013

Duas Canções para Milarepa




I

Mahamudra


Aqui, dois pássaros pousaram

Dois faróis. Duas estrelas.

A espiral do tempo dispersa numa nuvem que se esvai...

Dois pássaros voando eternamente

através da luz sem tempo ou espaço.


E o voo

não é mais a conquista do ar,

o ruflar de asas

ou o olhar altivo sobre a geografia do vale.


Voar significa também a quietude do ninho,

o pouso mudo sobre os mais altos ciprestes,

o repouso morno na terra ardente num dia de verão.


Dois pássaros voando mistérios em claro enigma...

Hieróglifos que as ondas desenham e apagam

e a areia da praia esquece,

porque nada há para ser lembrado.


Dois faróis. Duas estrelas.

Luz que cala noite ou dia,

qualquer noção a respeito de existir:

Gesto que tudo contempla e abrange.



II

Dharmakaya


Mais perto do céu que de costume

minha alma transborda e latejante,

imita como um coração apaixonado

o movimento das estrelas mais distantes.


Mais perto do céu que de costume

um anjo traga num sussurro

meus versos ao alcance como um beijo.


Mais perto do céu que de costume

os astros dispersos sobre minha mesa

posta para a toalha da noite.


Mais perto do céu que de costume

trouxe a lua hoje para dentro do meu jardim

até que ela mude para outro signo

e eu, por minha vez, faça a viagem de regresso

para dentro do sol.



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