Wadi Rum
a Leonardo Mesquita
O vento tem histórias para contar
e sob as estrelas, somos todos crianças iluminadas.
Há muito tempo quis falar com as pedras,
adivinhar-lhes a sabedoria sólida e submissão ao tempo.
Mas falhei. Não ouvi as histórias do vento em sopranos,
não fui criança nem luz e amarguei a areia da vida
trincando nos dentes um gosto de pó.
Mas quando vi o deserto...
Sua dança extática de amplitudes...
Quando vi o deserto fui menino de novo,
adivinhei nas pedras o rosto de cada esfinge
e sorri porque não podia dizer mais nada.
E comigo o deserto sorriu um calor por dentro,
abraço de não se poder terminar, um beijo para sempre,
amado Wadi Rum!
E um deserto interno então foi descoberto.
Não há como traçar mapas na areia
mas eu trouxe comigo as pegadas dos beduínos,
trouxe a areia das dunas nos sapatos
nos caminhos que se mesclavam e onde eu encontrava
todas as respostas na sola dos meus pés descalços de perguntas.
A lua era nova e as estrelas lidas como puro dia
num céu negro de luz.
E assim o grande Wadi Rum permanece
pulsando agora mesmo neste peito aberto de criança,
trazendo seu coração magnífico
num brinquedo de corda do tamanho de um país
que a memória não se cansa de reproduzir
além do tempo que o sal da areia ainda preserva em suas tintas.
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